Joinville
se caracteriza por singularidade única: de um lado o mar: rio Palmital e a Baia
da Babitonga, de outro, a Serra do Mar – exuberante e luxuriosa. Poucos municípios
tem esse predicado: ao nascer do sol - a brisa marinha; ao pôr-do-sol - a
languidez preguiçosa das araucárias sobrepondo-se às montanhas azuis. Em pouco mais de 50 quilômetros vai-se da
restinga - vegetação rasteira sob influência da maré -, à vegetação ombrófila
densa, mata Atlântica da gema. E, após - no cimo -, a vegetação ombrófila
mista; soberana se identifica nas frondes azuis das araucárias... Amplitudes
que se alargam desmedidamente.
A
Estrada Bonita é tudo isso, e muito mais ao incorporar singularidades mistifica
o que há de mais sagrado: a paisagem e sua gente hospitaleira. Não satisfeitos
à ardente paixão pela natureza, eis que abrem seus lares, seus carreadores e
caminhos, e mesmo seus peixes, aos visitantes. Ali, tudo está no seu devido lugar.
Cada árvore com seu desenho verde, cada folha enfeitando ramadas, cada flor
cobrindo de cores o céu. Até o rio Pirabeiraba - imensa ave voadora -, soberano
contorna o granito que preguiçosamente escama a seus pés. Pedras translúcidas,
outras camufladas de marron-tijolo distribuem pérolas à mão provocadora do
visitante.
Findo
o ciclo da madeira e das serrarias, mesmo assim, resta grande parte da mata original
- esplêndido tapete verde. Serraria como a de Tercílio Bilau - outrora notável
madeireiro -, transformou-se no restaurante Tia Marta – uma joia da culinária
germânica. No entorno ainda há vestígios da serraria: rodas d’água giram. Canelas,
araribás, perobas e cedros exibem-se aos jacatirões-açú, aos tanheiros e as
licuranas. E, Teodoro Hatenhauer, este fez história com seu rebanho leiteiro. E
como não citar Gustavo Witt, farmacêutico de todas as horas. E, no ano 2002, o
asfalto, obra de Luiz Henrique.
Tantas as gerações - impossível elencar todas
sem equivocar-se. Raul Schuchowski, este
desceu a serra para morar no sopé. No sítio orquídeas transbordam - transpiram
raios de sol - bonecas empoleiradas.
Mas,
eis que a esse passado brilhante, abre-se nova catedral de esperança. Há herdeiros à altura. A família Kertens e a filha Juliana - está da
novíssima geração -, impõem novos
contornos ao desenho natural. Reinaldo
sucede a Teodoro, e no galpão rústico de outrora, ergue pousada e, ao lado, um
piscoso pesque-pague. Junto ao pórtico,
a família Dumke empresta charme à paisagem com bela pousada e o restaurante Grün
Wald - tipicamente germânico. E há muitas outras atrações: melado, cucas, pães
e bolachas coloniais, bem como as lambretas do Recanto Gehrmann. E não há como
não evocar Adholfo Kertens e sua obstinação no combate ao borrachudo.
Falar
da Estrada Bonita é quase impossível, mesmo nas horas mais inspiradas, pois o
que move sua gente, antes de tudo é paixão.
Paixão atrevida de homens, mulheres e crianças, todos tomados de coragem
incomum, unidos para proteger a mãe-natureza. As gerações futuras, antecipadamente, agradecem.
Onévio Antonio Zabot
Engenheiro Agrônomo
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