terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Estrada Bonita



Joinville se caracteriza por singularidade única: de um lado o mar: rio Palmital e a Baia da Babitonga, de outro, a Serra do Mar – exuberante e luxuriosa. Poucos municípios tem esse predicado: ao nascer do sol - a brisa marinha; ao pôr-do-sol - a languidez preguiçosa das araucárias sobrepondo-se às montanhas azuis.  Em pouco mais de 50 quilômetros vai-se da restinga -  vegetação rasteira sob  influência da maré -, à vegetação ombrófila densa, mata Atlântica da gema. E, após - no cimo -, a vegetação ombrófila mista; soberana se identifica nas frondes azuis das araucárias... Amplitudes que se alargam desmedidamente.
A Estrada Bonita é tudo isso, e muito mais ao incorporar singularidades mistifica o que há de mais sagrado: a paisagem e sua gente hospitaleira. Não satisfeitos à ardente paixão pela natureza, eis que abrem seus lares, seus carreadores e caminhos, e mesmo seus peixes, aos visitantes. Ali, tudo está no seu devido lugar. Cada árvore com seu desenho verde, cada folha enfeitando ramadas, cada flor cobrindo de cores o céu. Até o rio Pirabeiraba - imensa ave voadora -, soberano contorna o granito que preguiçosamente escama a seus pés. Pedras translúcidas, outras camufladas de marron-tijolo distribuem pérolas à mão provocadora do visitante.
Findo o ciclo da madeira e das serrarias, mesmo assim, resta grande parte da mata original - esplêndido tapete verde. Serraria como a de Tercílio Bilau - outrora notável madeireiro -, transformou-se no restaurante Tia Marta – uma joia da culinária germânica. No entorno ainda há vestígios da serraria: rodas d’água giram. Canelas, araribás, perobas e cedros exibem-se aos jacatirões-açú, aos tanheiros e as licuranas. E, Teodoro Hatenhauer, este fez história com seu rebanho leiteiro. E como não citar Gustavo Witt, farmacêutico de todas as horas. E, no ano 2002, o asfalto, obra de Luiz Henrique.
 Tantas as gerações - impossível elencar todas sem equivocar-se.  Raul Schuchowski, este desceu a serra para morar no sopé. No sítio orquídeas transbordam - transpiram raios de sol - bonecas empoleiradas.
Mas, eis que a esse passado brilhante, abre-se nova catedral de esperança.  Há herdeiros à altura.  A família Kertens e a filha Juliana - está da novíssima geração -, impõem  novos contornos ao desenho natural.  Reinaldo sucede a Teodoro, e no galpão rústico de outrora, ergue pousada e, ao lado, um piscoso pesque-pague.  Junto ao pórtico, a família Dumke empresta charme à paisagem com bela pousada e o restaurante Grün Wald - tipicamente germânico. E há muitas outras atrações: melado, cucas, pães e bolachas coloniais, bem como as lambretas do Recanto Gehrmann. E não há como não evocar Adholfo Kertens e sua obstinação no combate ao borrachudo.
Falar da Estrada Bonita é quase impossível, mesmo nas horas mais inspiradas, pois o que move sua gente, antes de tudo é paixão.  Paixão atrevida de homens, mulheres e crianças, todos tomados de coragem incomum, unidos para proteger a mãe-natureza. As  gerações futuras, antecipadamente, agradecem.


Onévio Antonio Zabot
Engenheiro Agrônomo

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