Face ao cenário
nacional de descalabro e
estupefação geral, onde
parte do Partido dos Trabalhadores -
tido como uma reserva moral da
sociedade brasileira -, aparece no epicentro de uma crise de graves
proporções, cabe uma reflexão mais acurada a respeito do momento em que vivemos
e da perspectiva de superá-lo.
Não é novidade para
ninguém, medianamente
informado, que o processo político brasileiro seja extremamente viciado e
vulnerável. Os fatos retratados
dia-a-dia pela imprensa,
provam isso. E os partidos
políticos, via de regra, frágeis, tergiversam,
vacilam e alimentam esse processo
diabólico de canibalismo cívico.
Ao prospectarmos nossa história, vamos verificar que fatos
semelhantes repetem-se com relativa frequência, sendo o pivô de debacles
intermináveis. A novidade, é um governo de esquerda, com forte apelo
popular, haver enveredado pelo mesmo
caminho. A pureza da vestal, posta à prova, desvela-se,
soçobrando ao largo.
Raymundo Faoro, na obra “Os
Donos do Poder”, obra - diga-se de passagem -, oportuna para entender
o momento atual, discorre com
propriedade sobre as relações promiscuas
e comprometedoras mantidas entre o setor
público e privado, ao longo da formação histórica de Portugal e do Brasil-colônia, até os dias atuais.
O Estado
patrimonialista sempre valeu-se dos
cofres públicos para cooptar lideranças, submetendo-as aos seus ditames, ao
invés de inseri-las dentro de uma agenda de desenvolvimento.
Durante a monarquia, conservadores e liberais digladiavam-se
ferozmente, mas os últimos, ante o menor
aceno de acesso ao poder, cediam
às benesses do mesmo. De sorte que
Holanda Cavalcanti alcunhou-os com o
dito caústico: “Não há nada mais
parecido com um saquarema(conservador)
do que um luzia(liberal) no poder”.
“Nossa economia como afirmou o Sr. Aliomar Baleeiro, viveu sempre
do óleo canforado dos estancos,
monopólios, muletas bancárias oficiais, tarifas protecionistas, reajustamentos,
equilíbrio estatístico, valorizações artificiais, etc.” Max Weber descreve: “O ideal dos Estados patrimoniais – é
ser o pai do povo”.
Raymundo Faoro vai mais longe: “A opressão econômica e
social e a concepção do Estado-providência, que ensina a tudo esperar dele,
desperta a esperança popular de ver nos
governantes, ou de procurar neles, o salvador, protetor e pai dos desvalidos. As classes
negativamente privilegiadas, com o entusiasmo orgiártico dos supersticiosos
confundem o político com o taumaturgo que transformará as pedras em pães, os
pobres em ricos”.
Ou seja, a sociedade brasileira, via de regra, sempre viveu duas
realidades antípodas: de um lado aqueles que chegam ao poder, ao mando
gerando pseudos e mega-especetativas; e
de outro, a massa de manobra(os iludidos) que aguarda o milagre que nunca
acontecerá.
A crise atual insere-se nesse contexto. Diferencia-a, todavia, o
amadurecimento de amplos setores produtivos nacionais: intelectuais e
trabalhadores conscientes. Hoje, em sã
consciência, ninguém ignora que uma boa
agenda de desenvolvimento passa, entre
outras, pelas seguintes premissas: 1) aprimoramento
do regime democrático; 2) sistema tributário simplificado; 2) economia
social de mercado; 3) Banco Central independente; 4) setor público com
equilíbrio financeiro; 5) investimento maciço em educação; 6) administração
pública transparente e profissionalizada; 7)
acordos comerciais bilaterais e multilaterais amplos; 8) legislação
trabalhista flexível; 9) descentralização administrativa(novo pacto
federativo), transferindo-se competências do governo federal para Estados e
Municípios(ambientais, sanitárias, tributárias, etc.)
Quanto à crise política, como todas as outras vividas por esse país(e
não foram poucas) que sirva de exemplo, de
lição, para que definitivamente possamos atingir nossa tão almejada maturidade. Reformas políticas não se fazem somente com leis, e às pressas; mas sim, em cima propostas exeqüíveis, e com pessoas honradas e éticas. Quanto aos
aventureiros e responsáveis pela crise atual, que sejam exemplarmente punidos.
E, em tempo, vamos a agenda de trabalho, antes que seja tarde. É tudo o que precisamos. Onévio Antônio Zabot/Engenheiro
Agrônomo/Joinville
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